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História do nosso Estadual

Como ficaram marcadas as décadas do Goianão

O Campeonato Goiano chega à temporada de 2022 carregado de histórias, campeões, polêmicas, grandes jogos, times marcantes que ganharam títulos ou choraram a perda deles, personagens, fatos pitorescos, lendas, rivalidades locais e intermunicipais, antigos e jovens estádios, evolução, números, paixão. Glória para alguns poucos campeões - apenas nove (Atlético-GO, Goiás, Goiânia, Vila Nova, Anápolis, Grêmio Anápolis, Crac, Goiatuba e Itumbiara) - e, por que não?, para outros que foram brilhantes e deixaram a marca da competitividade.


O Estadual se tornou, ao longo dos anos, opção de lazer para comunidades e municípios. Também movimenta a economia goiana e ativa o mercado de trabalho para jogadores, profissionais dos clubes (funcionários e comissões técnicas), arbitragem, imprensa, indústria de materiais esportivos, ambulantes. É tudo isso e um pouco mais. É rivalidade, é paixão, é polêmica, é grito de gol.


O Goianão é a competição esportiva mais tradicional, intensa e duradoura do Estado. Historicamente, começou a ser disputado na década de 1940 - a primeira edição reconhecida pela Federação Goiana de Futebol (FGF) é a de 1944, que teve o Atlético como campeão num torneio restrito às equipes da capital: Atlético, Goiânia, Goiás, Vila Nova e Campinas.


Algumas situações chamam a atenção: é um torneio que começa curto e com poucos participantes (até pelas dificuldades de locomoção em território goiano), coincide com o crescimento de Goiânia e a evolução da economia estadual, acompanha a popularização do futebol no País, é parte da própria cultura do Estado, acirra rivalidades locais e regionais, é palco usado por políticos, tanto na capital como no interior.


Em Goiânia, por exemplo, a gênese dos clubes está interligada às características dos grupos que o criaram: o Atlético é uma forma de afirmação de Campinas (que vira bairro após a fundação de Goiânia), o Goiás é criado por imigrantes que vieram trabalhar na capital, o Goiânia representava a nascente sociedade goianiense ligada ao governo estadual, o Vila Nova nasceu como time do povo e outras agremiações, que deixaram de existir ou de ter equipes profissionais, têm suas histórias particulares, como  Sírio Libanês, Campinas, Botafogo, Riachuelo.


O Goianão nasceu, cresceu, se popularizou. Na primeira década - a de 1940 -, é polarizado pelas duas principais equipes da capital à época, Atlético e o Goiânia, fundados na década anterior. Cada um deles foi campeão três vezes. O campo de jogo foi o Estádio Olímpico, ainda sem iluminação, com pequenas arquibancadas e ainda bem distante do glamour de uma arena moderna. O futebol vivia a fase do amadorismo, assim prevalecendo até o início da década de 1960. Poucos times do interior jogaram as edições desta fase inicial.


A década de 1950 tem a predominância do Goiânia, ganhador da maioria dos títulos e que tem, como rival, o Atlético (campeão em 1955 e 1957). O Galo conquista o primeiro pentacampeonato (1950 a 1954), em sequência que tem a marca da polêmica da temporada de 1951, disputada no campo e garantida nos tribunais, após longa briga jurídica, em 1960. É a primeira vez que o Goiás, o maior ganhador de títulos do Goianão (28 vezes), mostra força no torneio.


O domínio do Goiânia começou a perder força na década de 1960. É um período aberto, de muita rivalidade, novidades e o aparecimento de outros clubes no cenário goiano. É a fase de mudanças profundas nas relações entre clubes e jogadores, passando do chamado "amadorismo marrom" à profissionalização dos atletas de futebol, que passam a receber salários a partir de 1962. Nesta fase, o Vila Nova se apresenta como força emergente do futebol regional. De time pobre e operário, que chegou a ter outros nomes e uniformes em anos passados, se torna um clube vencedor, sem perder a essência de equipe popular.


A década de 60 começa com o Vila Nova ganhando o tricampeonato (1961 a 1963). Era um time praticamente imbatível no Goianão e nos outros torneios citadinos ou regionais. Mas os anos da década também apresentam novos campeões, tanto de clubes da capital - o Goiás (1966 e que, depois, nunca mais seria o mesmo) - como os do interior: Anápolis (1965) e Crac (1967).


Outras agremiações também deixaram legado: Inhumas, Ipiranga, Ferroviário, Anapolina. O futebol goiano vai se descentralizando, salta o Rio Meia Ponte e engloba times de cidades do interior, apesar de dificuldades e distâncias. As kombis, os carros de dirigentes e o trem de ferro promovem o deslocamento das equipes pelo interior. A delegação do Crac, que veio a Goiânia para conquistar o primeiro título, o de 1967, se hospedou numa pensão, em Aparecida de Goiânia, e veio dividida em kombis. Romantismo maior, impossível.


O futebol anapolino dá um salto de qualidade com a construção do Estádio Jonas Duarte, em 1965, coincidindo com o primeiro e único título do Anápolis naquele mesmo ano. Por sinal, foi conquistado na nova praça esportiva, com direito à virada sobre o Vila Nova, por 3 a 2.


O fim daquela década e o início da seguinte (1970) trazem novamente o fortalecimento de clubes da capital. Goiânia (1968), Vila Nova (1969) e Atlético (1970) anulam a força emergente dos times interioranos e abrem uma outra polarização, entre esmeraldinos e vilanovenses, nos anos de 1970. É a década do último canto do Galo (campeão em 1974) e, no mais, só deu Goiás (1971, 1972, 1975, 1976) e Vila Nova (1973 e o histórico tetra, de 1977 a 1980).


O Estádio JK é inaugurado em Itumbiara (1977), mas o futebol goiano assiste ao deslocamento do cenário de disputa. É a construção e inauguração do Estádio Serra Dourada, em Goiânia, que tira do Olímpico a centralidade e tem os primeiros anos marcados pelos grandes públicos. O Goiás é o primeiro bicampeão da era Serra Dourada (1975 e 1976) e, o Vila, o primeiro tetra (1977, 1978, 1979, 1980) do estádio. Os clubes do interior pouco fizeram neste período.


O Goianão tem outra mudança na década de 1980. O Vila Nova resiste nos primeiros anos (é o campeão em 1982 e 1984), a Anapolina apresenta ao futebol goiano a melhor formação de sua história e a perda de um dos títulos mais chorados do Goianão (vice em 1981) e há o ressurgimento do Atlético, que se recompõe para rivalizar com o Goiás - o Dragão ganha os títulos de 1985 e 1988. Porém, o Goiás ganha espaço e se fortalece por saber aproveitar muito bem as participações no Campeonato Brasileiro.


O alviverde foi campeão em 1981, 1983, 1986, 1987 e abre terreno para comemorar o primeiro tricampeonato do clube - 1989, 1990 e 1991. Ao mesmo tempo, o Goianão traz uma luz na direção do interior - o Goiatuba, que passa a figurar entre as forças do futebol goiano, pulando do 3º lugar (1988) ao inédito título (1992).


Por isso, na década de 1990, o interior volta a ter um campeão do interior - o Goiatuba (1992) -, além do destaque de equipes como Anápolis (em 1995 e 1996), o Crac (1995 e 1997), a Jataiense (1991 e 1997), Pires do Rio (1991), Mineiros (1990 e 1993).


Na capital, o Vila Nova quebrou o jejum de nove anos e voltou a festejar o título em 1993. Repete a dose em 1995, mas vê o arquirrival, o Goiás, comemorar o seu até hoje único pentacampeonato (1996 a 2000) - mais à frente, foi tetra, mas impedido de um novo penta em 2019. É a década do cada vez mais forte alviverde, até 2000.


Os anos seguintes se abrem de novo para o Vila Nova (2001 e 2005) e para o interior. O Crac (em 2004) se torna o primeiro e único clube fora da capital a ganhar duas vezes o Goianão, ao passo que o Itumbiara entra para o seleto grupo de campeões (em 2008). O Novo Horizonte, de Ipameri, reluz em 2002 e 2003 (vice-campeão), mas a primeira década do novo século reaquece o fogo do Dragão, que passa a rivalizar com o Goiás a partir de 2006.


O Atlético volta a festejar o título do Estadual após 19 anos - em 2007, sobre o Goiás. Os dois passaram a disputar a maioria das finais, desde então (2006, 2007, 2009, 2011, 2012, 2013, 2014, 2019). Santa Helena (2010), Aparecidense (2015 e 2018), Anápolis (2016), Goianésia (2020) colocam o interior em evidência, além de o Vila Nova (vice em 2017) ter chegado de novo à final.


Nos últimos 12 anos, o Goiás mostrou força (2012, 2013 e o segundo tetra, de 2015 a 2018). O Atlético comemorou o primeiro bicampeonato de sua história (2010 e 2011), ganhou um dos títulos mais comemorados em 2014 (gol marcado aos 48 minutos que valeu a idolatria dos atleticanos ao ex-zagueiro Lino) e ganhou outra vez o bi (2019 e 2020).

Se houve o predomínio dos clubes da capital na maioria das edições, o Goianão abre a década de 2020 com o mais novo e inédito campeão - o Grêmio Anápolis, em 2021, com direito a duas vitórias nos pênaltis sobre os favoritos da capital, em Goiânia: na semifinal (Atlético) e na final (Vila Nova).


O Serra Dourada deixa de sediar boa parte da competição a partir de 2019. Os estádios Olímpico, Antonio Accioly, Serrinha e Onésio Brasileiro Alvarenga são palcos dos jogos dos clubes da capital e a imponente praça esportiva, construída em 1975, fica abandonada. O Goiás faz a pior campanha de sua história desde 1965 - caiu nas quartas de final em 2021 - e a nova década terá, em 2022, novas histórias, personagens, polêmicas, jogos marcantes, artilheiros, fatos pitorescos, assim como o princípio da história do Estadual.

Campeões que disputaram cada edição do Goianão

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